sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Dominguinhos





















Envelhecemos todos: eu, os meus amigos, as namoradas que tive... estamos todos velhos! Os cabelos brancos ou, no meu caso, nem isso — estou é careca! De vez em quando acontece uma amargura, como, por exemplo, a morte de alguém. Sim, chegamos a esse ponto!

Hoje, olhando papéis velhos que não deviam parecer tão velhos assim, pois o que tenho em mãos, especificamente, data de novembro de 1998. Trata-se de um documento assinado pelo instrumentista Paulo Moura, que foi diretor artístico do festival que recebeu seu nome, aqui na cidade de São José do Rio Preto.

Na verdade, fui levado a esses papéis e a essa lembrança pela despedida do músico Dominguinhos em julho de 2013. Acontecimento que também não deveria sinalizar um passado tão distante, afinal, são só quatro anos. A música dele traz de volta meus dias no nordeste, na cidade de Aracaju, como se uma lembrança puxasse outra. Lembro-me que ia aos bares pela música, dizia que sou do interior de São Paulo e os aracajuenses diziam que eu era um retirante às avessas! A verdade é que o nordeste é lindo e aqueles dias foram dos melhores.

Ainda que haja repertórios que nunca poderei esquecer, meu tempo de ser músico agora também está no passado. Aos poucos fui abandonando a música como se esse abandono fosse também uma parte do envelhecimento. Um envelhecimento sem arte e nem esperança, no qual se perdem as músicas e os próprios músicos que um dia estiveram presentes. E talvez isso tudo seja consequência de medo ou de cansaço ou as duas coisas; envelhecimento de quem pode ter conhecido alguma renúncia e solidão.

Em minha vida, a música cedeu lugar a uma atividade bastante silenciosa: a leitura — e quanto sofrimento eu teria poupado aos meus vizinhos caso essa mudança acontecesse vinte anos antes! Mesmo enquanto músico, leitura sempre foi uma atividade com estranhas peculiaridades. Uma partitura, por exemplo, não é um texto para ser lido apenas, é um texto para ser decorado e executado; sendo que essa última parte fica melhor diante de ouvintes! Um poema, por outro lado, precisa apenas do leitor para realizar-se como obra artística (já começo a refletir como quem trocou Garoto por Bakhtin).

Paulo Moura morreu, Dominguinhos morreu e, com eles, muitas músicas e músicos também ficaram para trás como num sonho de tempo passado; são agora fotos e histórias distantes. Esse texto não é de agora, foi escrito, originalmente, em 2013; ocasião da morte de Dominguinhos. Foi postado num blog que já não existe mais e dedicado a uma namorada que hoje é uma amiga que mora distante. O sentimento posto nisso tudo, ao que parece, já não é presente com a mesma intensidade e, por isso mesmo, aumenta a sensação de perda. Tudo por aqui está em ruínas.

Buenos Aires: Facultad de Filosofía y Letras

  Fazia parte dos planos de passeios por Buenos Aires visitarmos uma universidade, mais especificamente, um curso de Letras. Isso porque sem...