sábado, 15 de abril de 2017

Exame de admissão

A extensão do texto e a relação candidato/vaga


Durante toda minha vida como estudante, até o fim do ensino médio, redação era uma atividade que o professor nos passava para ter tempo de fazer alguma outra coisa — corrigir provas, por exemplo —, de modo que só fui ter noção sobre o que vem a ser gênero textual (texto narrativo, texto dissertativo, etc.) depois que terminei o ensino médio e comecei a preparar-me para o vestibular.

Aprendi facilmente o que é gênero textual, foi como juntar o nome com a pessoa! A partir de tal ponto, foi só adequar minha criatividade às exigências do texto dissertativo, que é o gênero pedido pelos vestibulares, e apresentar boas redações. Contudo, ninguém nunca me falou sobre que extensão o texto deve ter — as instruções para a redação do ENEM dizem o seguinte:

  • O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
  • O texto deve ser escrito à tinta, na folha, em até 30 linhas.
  • A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção.
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
  • Tiver 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “insuficiente”.
  • Fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
  • Apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
  • Apresentar parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto.

A partir dessas instruções, entendia que bastava escrever mais de sete linhas para que a redação atendesse as exigências do exame. Ou seja, como sei que minha redação tem qualidade suficiente para uma boa nota, se eu escrevesse oito linhas o trabalho já estaria feito e, então, poderia dedicar-me ao resto da prova! Esse raciocínio, no entanto, tem alguns problemas que só percebi muito mais tarde, na avaliação para ingresso no curso de mestrado.

Em uma prova de concurso, fazer o “suficiente” garante nota, mas não uma nota competitiva. Se a redação do ENEM deve feita em até 30 linhas e a extensão mínima é de 7 linhas, isso significa que as provas competitivas são aquelas em que o candidato escreveu até o fim da última linha, pois a extensão conta!

É claro que aprendi isso da pior maneira possível! Ao verificar o resultado da avaliação para ingresso no curso de mestrado, vi que minha nota era 5,9, um ponto e um décimo abaixo do exigido para a admissão. Conversando com meu orientador, fui informado de que minha resposta fora “curta”: escrevi quatro faces de folha almaço e devia ter escrito seis! Por esse motivo, meu mestrado teve que esperar um ano!

Justamente a prova de mestrado é bem ilustrativa, pois não se trata de uma competição por vagas. No meu ano de admissão, foram 50 candidatos para 50 vagas, por isso, bastava fazer as provas (são várias etapas) e conseguir nota acima de 7 em uma escala que vai de 0 a 10. Parece que as coisas ficam mais fáceis quando não temos concorrentes, mas na verdade é a mesma coisa. No caso do mestrado, logo na primeira etapa foram 15 reprovados e dois ausentes, de modo que apenas 33 candidatos seguiram para a segunda etapa avaliativa e, no final, apenas 25 foram aprovados e 25 vagas ficaram ociosas.

Em um exame por vaga, o candidato deve preocupar-se com a nota de corte, não com a relação candidato/vaga. Por exemplo, se o candidato tem nota 8 em provas simuladas que envolveram exames anteriores — o que dará mais credibilidade à essa expectativa de nota 8 —, e a nota de corte é 5, mesmo que sejam duzentos candidatos por vaga, essa concorrência toda não lhe faz competição. Parece arrogante dizer assim, mas a verdade é que ele está acima da concorrência e a vaga, muito possivelmente, será dele. Por outro lado, se o candidato tem a expectativa de média 8 e candidata-se a um curso de dois candidatos por vaga, cuja nota de corte é 9, ele, muito possivelmente, não conseguirá a vaga.

Por fim, a relação candidato/vaga e nota de corte não é fixa, muda de acordo com o desempenho dos candidatos. Por exemplo, o candidato tem a expectativa de média 8 e presta um concurso no qual a nota de corte é 5, mas, no seu ano, os candidatos todos estão mais preparados e elevam a nota de corte para 9 (muito azar!). Ele não conseguirá a vaga e no ano seguinte os índices apontarão nota de corte 9 (ao invés de 5).

domingo, 2 de abril de 2017

Assunto de blog

Decidir o que será assunto deste blog não é tarefa das mais fáceis! Não que falte o que escrever, mas o que interessa publicar (ou o que poderia proporcionar uma leitura interessante) ou porque publicar determinado assunto no blog, ao invés de publicar em outro veículo. Gostaria de publicar assuntos interessantes, é claro! Escrever algo que pudesse ser útil a estudantes ou a quem faz uma pesquisa qualquer, particularmente, assuntos que fazem parte de minha área de pesquisa e que, a meu entender, não deveria ser restrito ao meio acadêmico.

Eis o desafio: escrever textos interessantes, ligados ao meu trabalho de pesquisa, que não entrem em choque com minha produção acadêmica. Por exemplo, quando percebi que meus textos seriam melhor aproveitados em uma revista acadêmica, entendi que se os deixasse no blog correria o risco de ser acusado de plágio — por isso cheguei a apagar postagens e até mesmo a desativar o meu site pessoal!

Do mesmo modo, também não é legal um blog que reproduz textos que li em algum livro ou página da internet. Na verdade, o que mais encontramos na internet é reprodução de texto alheio: um pensa e uma multidão copia! Para dizer tudo, seria mentira se eu dissesse que minhas primeiras experiências com publicações na internet foram diferentes disso! Aliás, o meu primeiro blog é este mesmo, com o mesmo título, apenas o estou reformulando com outro conceito (também tive um blog em meu site pessoal, mas agora estão desativados tanto o site quanto o blog).

Publicar traduções até que me parecia uma alternativa agradável. O pesquisador Celso de Oliveira Vieira publica suas traduções em blog e isso não impede que sejam posteriormente publicadas por uma editora! Contudo, a recomendação que tive foi a de não publicar meus trabalhos inéditos em blog — não a segui completamente.

Há algum tempo comecei a publicar traduções comentadas dos poemas em prosa de Charles Baudelaire. Essa ideia não é nova: há uma dezena de sites dedicados à obra poética de Charles Baudelaire. Não obstante, quando meu trabalho começou a ganhar volume — traduzi vinte e três dos cinquenta poemas —, percebi que o trabalho estava bom, apresentava inovação às traduções que conheço, e, caso eu resolva apresentar o trabalho a uma editora, o blog poderia atrapalhar as negociações. No final das contas, o trabalho ficou parado.

Recentemente comecei um segundo blog com uma amiga, o BBMK (Being for the Benefit of Mr Kite), com textos em francês e em inglês, e daí percebi que não será tão ruim um blog com experiências de escrita criativa. A amiga é a Patricia, que mora em Limoges, na França, juntos praticamos escrita em língua estrangeira, ela em inglês, eu em francês. A ideia é manter um espaço para quem quer trabalhar língua estrangeira (inglês, francês e português — para falantes não nativos de língua portuguesa — veja a página Submissions / Proposer des textes). Depois de escrever em francês textos que eu não consideraria postar neste blog, percebi que pode ser interessante mesclar algumas de minhas experiências também por aqui.

A experiência, no caso, será a crônica. Crônica é um tipo de texto, melhor, um gênero textual que deveria ser fácil, afinal, é com a crônica que se escrever sobre nada, ou sobre tudo. Atualmente, esse gênero migrou para o YouTube no formato de Vlog, cujo único defeito é o de não ser escrito — por isso mesmo faz sucesso. O Vlog não vive só de crônica, mas essas são as postagens mais legais. A crônica é um descanso que tenho dos textos mais sérios e exigentes, mas, por outro lado, escrever sobre nada, ou sobre tudo, não é das coisas mais fáceis. Veremos o que vem pela frente.

Buenos Aires: Facultad de Filosofía y Letras

  Fazia parte dos planos de passeios por Buenos Aires visitarmos uma universidade, mais especificamente, um curso de Letras. Isso porque sem...