Ao longo de muitos anos escrevi textos como experiências de
escrita. Realmente não eram mais que isso: experiências de escrita ─ nasceram
da sugestão de uma professora de cursinho; segundo a qual, para escrever boas
redações devemos praticar todos os dias. O problema é que redação é um gênero que
só existe na escola e só é praticado até entrarmos na faculdade. Depois
escrevemos artigos, cartas, resenhas, resumos, crônicas, dissertação, tese
(dissertação e tese a gente escreve uma só de cada, há malucos ou malucas que
escrevem mais de uma, mas são casos excepcionais), enfim, paramos de escrever
redações; eu parei!
Antes de parar, eu escrevi muita coisa! Não necessariamente
redação, mas os demais gêneros todos. Alguns desses textos eu até acho que são
legais e talvez seja hora de mostra-los. Assim, esse fica sendo um outro
exercício de escrita: o exercício da reescrita! Entre outras coisas, o blog
passará a ter um pouco mais de volume de textos, uma produção mais frequente, já
que foram escritos previamente!
Começo com uma carta escrita em junho de 1998 ─ e lá se vão
vinte anos… Não é uma carta comum; antes, uma carta de amor ou mais ou menos
isso. Vamos ao texto:
Ao amor da minha vida,
Devido à intensa angústia causada pela sua repentina
ausência, decidi, em comum acordo com meu coração, que não amo mais você. Sei
que a solidão tende a aumentar, reconheço também que a velha rotina é um saco,
mas, o que se há de fazer? – o abandono já é presente.
Tem mais: a partir de agora sou do mal, o que significa que
sobreviverei sem lágrimas, e, pelo muito que me arrependa, não voltarei atrás.
Pois tenho certeza, você, meu amor, que é do bem, estará sofrendo em dobro –
coisa que só me dá satisfação!
Vou me desfazer de todas as pequenas lembranças, convencer
os amigos de que já esqueci, ser indiferente ao ouvir o seu nome. Vou acabar
com toda nossa parca esperança de reconciliação. – como disse: agora sou do
mal.
Meu único medo é de que nessa dura separação você
verdadeiramente me esqueça, pondo assim por terra todo meu projeto de vingança ─
envio esta carta com o pedido para que tal não aconteça: seja complacente ao
meu rancor e não me esqueça jamais!
Cordialmente, seu novo inimigo.