quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Desenho

Escrito em 1998, esse texto também é parte de minhas experiências de escrita.

Na época eu lia bastante a Cecília Meireles, que sempre fala de desenhos ─ por exemplo, nesses versos de Canção excêntrica:

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.


O trabalho que propus a mim mesmo foi o de dar vida a um retrato...



Para os olhos

Cores e formas


Luz e sombra

Cílios e sobrancelhas

Nariz e o contorno do rosto

Depois


O sorriso


Os cabelos

Escondem parcialmente as orelhas

(Antes de caírem sobre os ombros)

Falta o queixo e mais nada

É só colorir em pastel

Estarão prontos os olhos


Agora lhes dou lembranças

Saudades e alguma dor

(Não muita, pois se chora


borra a tela)


Nada de cores


Os fecho

Não castanhos, negros


Não verdes


Não azuis

Apenas um sonho

No rosto triste que sorri



quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Planos para 2018

















Ao longo de muitos anos escrevi textos como experiências de escrita. Realmente não eram mais que isso: experiências de escrita ─ nasceram da sugestão de uma professora de cursinho; segundo a qual, para escrever boas redações devemos praticar todos os dias. O problema é que redação é um gênero que só existe na escola e só é praticado até entrarmos na faculdade. Depois escrevemos artigos, cartas, resenhas, resumos, crônicas, dissertação, tese (dissertação e tese a gente escreve uma só de cada, há malucos ou malucas que escrevem mais de uma, mas são casos excepcionais), enfim, paramos de escrever redações; eu parei!

Antes de parar, eu escrevi muita coisa! Não necessariamente redação, mas os demais gêneros todos. Alguns desses textos eu até acho que são legais e talvez seja hora de mostra-los. Assim, esse fica sendo um outro exercício de escrita: o exercício da reescrita! Entre outras coisas, o blog passará a ter um pouco mais de volume de textos, uma produção mais frequente, já que foram escritos previamente!

Começo com uma carta escrita em junho de 1998 ─ e lá se vão vinte anos… Não é uma carta comum; antes, uma carta de amor ou mais ou menos isso. Vamos ao texto:


Ao amor da minha vida,

Devido à intensa angústia causada pela sua repentina ausência, decidi, em comum acordo com meu coração, que não amo mais você. Sei que a solidão tende a aumentar, reconheço também que a velha rotina é um saco, mas, o que se há de fazer? – o abandono já é presente.

Tem mais: a partir de agora sou do mal, o que significa que sobreviverei sem lágrimas, e, pelo muito que me arrependa, não voltarei atrás. Pois tenho certeza, você, meu amor, que é do bem, estará sofrendo em dobro – coisa que só me dá satisfação!

Vou me desfazer de todas as pequenas lembranças, convencer os amigos de que já esqueci, ser indiferente ao ouvir o seu nome. Vou acabar com toda nossa parca esperança de reconciliação. – como disse: agora sou do mal.

Meu único medo é de que nessa dura separação você verdadeiramente me esqueça, pondo assim por terra todo meu projeto de vingança ─ envio esta carta com o pedido para que tal não aconteça: seja complacente ao meu rancor e não me esqueça jamais!


Cordialmente, seu novo inimigo.


Buenos Aires: Facultad de Filosofía y Letras

  Fazia parte dos planos de passeios por Buenos Aires visitarmos uma universidade, mais especificamente, um curso de Letras. Isso porque sem...