sábado, 31 de dezembro de 2016

A tradução de um poema de Emily Dickinson

A carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983), poeta, jornalista, tradutora e crítica, foi, nas palavras de Armando Freitas Filho (2016, p. 161), “uma promessa que se cumpriu suficientemente”. Contudo, houve quem não gostou quando ela foi homenageada pelo Flip 2016 — por exemplo: Felipe Fortuna, que em artigo para o jornal Folha de São Paulo (29/06/2016) afirmou que a escolha foi “a marca do desprestígio da literatura nos meios de comunicação”.

Talvez o elemento de sedução da Ana seja o carinho que ela demonstra pelo mundo das Letras e a dedicação que tem ao trabalho como poetisa. Na introdução do ensaio “traduzindo o poema curto” (CESAR, 2016, p. 464), ela afirma estar fazendo uma tentativa de organizar e estruturar os estudos que apresentou em seminários de classe, durante o curso de Letras. Esse ensaio, bem como outros trabalhos críticos, é, sobretudo, uma reflexão a respeito de seu próprio fazer poético.

Os trabalhos de tradução que eu tenho feito seguem um caminho diferente do da Ana, mesmo assim, gostei muito das análises apresentadas por ela, tanto em prosa quanto em poesia. Abaixo apresento uma molecagem minha que resultou das leituras das análises de traduções da Ana: termino a tradução do poema da Emily Dickinson que ela apenas esboçou!


280
Emily Dickinson

Sinto um Enterro em minha Mente,
Enlutados aqui e ali
Marcham — marcham — até me parecer
Que o sentido irrompe —

Quando todos estiverem sentados
O Sistema, como um Tambor
Baterá — baterá — até eu acreditar
Que minha Mente entorpeceu-se

Então os ouço erguendo a Caixa
E range em minha Alma
Com o Chumbo desses Passos, de novo,
O Espaço — tangendo

E o Céu inteiro seria um Sino
E o Ser, só um Ouvir,
Silêncio, e eu, uma estranha Raça
Destruída, solitária, aqui —

Então, quebra-se a Tábua da Razão,
E afundo mais, e mais —
E atinjo um Mundo, em cada mergulho,
E sei Enfim — então —


280
Emily Dickinson

I felt a Funeral, in my Brain,
And Mourners to and fro
Kept treading — treading — till it seemed
That Sense was breaking through —

And when they all were seated,
A Service, like a Drum —
Kept beating — beating — till I thought
My mind was going numb —

And then I heard them lift a Box
And creak across my Soul
With those same Boots of Lead, again,
Then Space — began to toll,

As all the Heavens were a Bell,
And Being, but an Ear,
And I, and Silence, some strange Race,
Wrecked, solitary, here —

And then a Plank in Reason, broke,
And I dropped down, and down —
And hit a World, at every plunge,
And Finished knowing — then —


Referência
CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

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