No decorrer deste ano, o professor Daniel publicava um texto
bastante emotivo a respeito de seu desligamento do quadro de professores da UNIRP
(São José do Rio Preto, SP). Com o título “Fui demitido, após 20 anos de
dedicação à mesma instituição”, dizia estar sendo desligado “porque a educação
está em uma profunda crise econômica, financeira, política, espiritual e moral
que não é apenas dela”. Diante desse desabafo, o que adivinho ter sido expresso
pelos colegas, pois também já vivi situações similares, é o pensamento
silencioso “antes ele do que eu”. Essa apatia deve-se à ideia de que logo ele
estaria novamente empregado e o caso, esquecido.
Não foi o que aconteceu. Não é o que está acontecendo. Venho
acompanhando as notícias por meio de colegas professores e de colegas alunos.
Recentemente, o corpo discente do Centro Acadêmico Rolando
Tenuto, do curso de Medicina da Universidade São Francisco (Bragança Paulista, SP)
publicou uma nota de repúdio pela demissão do professor Douglas Collina Martins.
Nesta semana, depois de um período de intervenção devido à dívidas, a UNORP (São
José do Rio Preto, SP) apresentou uma lista grande de professores demitidos e
prometeu ampliá-la antes do final deste ano. Logo em seguida, a UNIP (São José
do Rio Preto, SP) também anunciou demissões. Vale informar que os professores
demitidos não têm os direitos trabalhistas respeitados (tenho menos informações
a respeito da USF, mas sei que a UNORP, a UNIRP e a UNIP, simplesmente, nunca
recolheram o FGTS e, com cinismo, recomendam a seus demitidos que procurem um
advogado).
Dessa vez, o pensamento “Antes ele do que eu” não deu muito
certo, porque, ao menos na UNORP, os professores que ficaram não receberam o
pagamento de dezembro e têm medo de que, ao cobrar a direção da universidade, possam
aborrecer alguém e acabar incluídos na próxima lista de demitidos.
Vale uma reflexão a respeito desse quadro.
A população, de um modo geral, não sabe o que é ou para que
serve uma universidade. Por causa isso, paira no ar uma ideia de que temos
todos de ser práticos e valorizar os cursos práticos. Por esse motivo, os
cursos técnicos estão, momentaneamente, em alta. Digo momentaneamente porque a crise
das universidades, que forma os professores dos cursos técnicos, logo os
atingirá também. Igualmente, as universidades públicas, responsáveis pela maior
parte dos trabalhos de pesquisas, já são atingidas. Isso porque as pesquisas foram, inesperadamente, tidas como desnecessárias, uma vez que a população, de
um modo geral, não liga desenvolvimento com pesquisa com universidade.
Se fosse possível que um plano de um país apenas com profissionais
técnicos desse certo, e que esses profissionais não precisassem contar com
direitos trabalhistas… (esse plano é tão mirabolante que nem dá para levar
adiante tal raciocínio).
Gostaria de dizer aos professores que estão perdendo o
emprego, que assisto com grande indignação e faço votos de que, em breve, no novo
ano que se inicia, tenhamos trabalhadores mais indignados e muito mais
dispostos a mudar esse quadro.
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