Um dia de finados em minha infância na cidade de Mirassol (SP),
vi pela primeira vez um esqueleto humano que retiraram de um túmulo. Se não
estou enganado, fazem isso para dar espaço no túmulo para um novo morto. Eu
olhei para a pilha de ossos dentro de um saco plástico e achei aquilo a coisa
mais engraçada do mundo, depois não dormi de noite... Nunca me esqueci dessa
história e, em 2002, quando relatei o acontecido no formato em que está logo abaixo,
eu tinha 29 anos!
Na minha idade nova
Sem saber mais que
cinco anos
─ Decerto era de
manhã
Pelo cemitério
mirassolense
Para andar só
Entre túmulos
Deixei
Mãe
Pai
Irmãos
Andando só
Encontrei num saco aberto
Um esqueleto depositado
─ Feito lixo
─ Feito resto
O crânio exposto sorria
Sorria sobre ossos
amontoados
─ Ria, sarcástico, dos meus cinco anos
Seu olhar profundo de órbitas vazias
Mostrava também haver tido cinco anos
─ Haver depois
tido muito mais que cinco
Mostrava meu futuro num saco aberto
─ Feito lixo
─ Feito resto
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